03/01/2011

A Professora e a Maleta - Desconheço autoria


A Professora era gorducha; a maleta também. A Professora era jovem; a maleta era velha,
meio estragada e de um lado tinha um desenho de um garoto e uma garota de mãos
dadas. Vestido igual, cabelo igual, sorriso igual!
A Professora gostava de ver a classe contente. Mal entrava na classe e já ia contando
uma coisa engraçada. Depois abria a maleta e escolhia o pacote do dia. Tinha pacotes
pequenininhos, médios, grandes tinha pacote embrulhado em papel de seda, metido em
saquinho de plástico, tinha pacote de tudo quanto é cor. Não era à toa que a maleta ficava
gorda daquele jeito!
Só pela cor do pacote as crianças já sabiam o que ia acontecer: pacote azul era dia de
inventar brincadeiras de juntar menina e menino; não ficava mais valendo aquela história
mofada de menino só brincar disso, menina só brinca daquilo, meninos do lado de cá,
meninas do lado lá. Pacote cor-de-rosa era dia de aprender a cozinhar. A Professora
remexia no pacote, entrava e saia da classe e,de repente pronto! Mostrava um fogão com
botijãozinho de gás e tudo. Era um tal de experimentar receita que só vendo. Um
dia a diretora da escola entrou na sala, justo na hora que o Alexandre estava ensinando
outro garoto a fazer bolinhos de trigo. Uma fumaceira medonha na sala de aula! Todas
as crianças em volta do fogão palpitando: falta sal, bota pimenta, bota um pouquinho de
salsa. A diretora sabia que estava na hora da aula de matemática. Que matemática era
aquela que a Professora estava inventando? Não gostou da invenção, mas saiu sem dizer
nada.
Pacote vermelho era de viajar: saia retrato do mundo inteiro lá de dentro do pacote.
Espalhavam aquilo tudo pela classe; enfileiravam as carteiras para fingir de avião e de
trem. Quando chegavam aos retratos, um ia contando para o outro tudo o que sabia sobre
aquele lugar.
Tinha um pacote cor de burro quando foge que a Professora nunca chegou a abrir! Todo
dia ela botava o pacote em cima da mesa. Mas na hora de abrir, ficava pensando se abria
ou não e acabava guardando o pacote de novo.
Pacote verde era dia de aprender a pregar botão, botar fecho, fazer bainha na calça e na
saia. Se o verde era bem forte, era dia de aprender a cortar a unha e cabelo. Verde bem
clarinho era dia de consertar e limpar os sapatos. E tinha ainda um verde, que não era
forte nem claro: era um amarelo que as crianças adoravam. Era dia da Professora abrir o
pacote de história. Cada história ótima!
Tinha um pacote branco, que só servia para a professora esconder e para a turma brincar
de achar. Quem achava ia para o quadro negro dar aula. No princípio ninguém procurava
direito. Coisa mais chata dar aula! E aula de quê?
_ Conta a tua vida. Mostra o que você sabe fazer.
Com o tempo, a turma deu para procurar direito o pacote. Era muito engraçada a tal aula!
No dia em que o Alexandre achou o pacote, resolveu contar para a turma como é que
ele vendia amendoim na praia. No melhor da aula, um grupo de pais de alunos que
visitando a escola entrou na sala. Quando a aula acabou um deles perguntou a Professora:
− A senhora está querendo ensinar meu filho a ganhar a vida vendendo amendoim?
A Professora explicou que Alexandre só estava contando para os colegas como era o
trabalho dele, para todos ficarem sabendo como é que ele vivia.
No outro dia saiu fofoca: contaram para o Alexandre que tinha um pessoal que não estava
gostando da maleta da Professora.
Um disse que era a diretora, outro disse que era uma outra professora, outro disse que
outro falou, mas ninguém ficou sabendo direito!
Uns dias depois choveu muito! Chuva grossa. Encheu a rua, o tráfego da cidade parou,
casa desmoronou. Coisa a beça aconteceu. E quase ninguém foi à Escola. Mas Alexandre
foi.
Entrou na classe e viu tudo vazio. Chovia demais para voltar para casa. Resolveu sentar
e esperar. Lá pelas tantas a Professora chegou. Mas chegou sem a maleta. E com jeito
diferente, uma cara meio inchada, não contou coisa engraçada, não riu nem nada. Sentou
e ficou olhando para o chão. Alexandre achou que ela nem tinha visto ele.
Ela também disse oi! Mas continuou quieta. Depois de algum tempo, Alexandre cansou
de tanto ninguém dizer nada e falou:
A professora nem se mexeu. Ele perguntou:
Ela fez que sim com a cabeça. Alexandre resolveu esperar mais um pouco. Mas pelo jeito
a Professora tinha esquecido de dar aula. Será que era porque ela não tinha trazido a
maleta? Arriscou:
A Professora olhou para ele sem saber muito bem o que dizer. Ele insistiu:
Puxa que susto! Ela nunca tinha falado alto assim. Não perguntou mais nada. O coração
ficou batendo, batendo, mas ela continuava sempre quieta até que ele não se aguentou e
perguntou de novo:
_ E agora? Como é que vai dar aula sem maleta?
_ Dá jeito de você comprar os pacotes de novo?
_ Eles vêm junto com a maleta? Não vendem separados?
_ Mas então compra outra maleta. Pronto.
Ela ficou quieta de novo. E o tempo ia passando e ela continuava sempre quieta! A cara
dela não secava nunca e não chovia lá dentro. Cada vez molhava mais! Então ele acabou
pedindo:
_ Não dá Alexandre, eles não estão mais fabricando essas maletas hoje em dia.
E aí... ele não perguntou mais nada. Ela também não falou mais. Até que a campainha
tocou e a aula acabou.

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